Os nossos filhos e a espiritualidade

Fonte: Damir Jelic (2016): "Prayer in Taizé church" Wikimedia Commons acedido a 01-10-2017 disponível em https://upload.wikimedia.org 






As minhas filhas não são baptizadas. Tem sido um celeuma, especialmente para as avós, que viveram experiências pessoais do início dos anos 80 da obrigatoriedade de baptizar a criança e que quanto mais não seja pelo argumento "Vamos fazer uma festa!" tentaram forçar, mas não conseguiram. Nem uma nem outra tiveram muita sorte durante anos a fio. 

Entre mim e o meu marido, as experiências pessoais na igreja são muito diferentes. Os meus pais sempre foram ambos católicos praticantes: a missa semanal era um ritual em família sagrado. Sei que pelo menos o meu pai pertenceu a uma JOC (Juventude Operária Católica) e a minha mãe sempre se manteve ligada aos projectos das Salesianas. Da experiência do H. terá de falar ele, só posso dizer que foi diferente da minha. E ele é crismado e eu não. A partir de certa altura, ainda quando namorávamos fomos a uma missa aqui no Algarve, em que ele foi participar. Depois da celebração eu tive de lhe perguntar como é que era possível o padre daquela paróquia dizer tanta barbaridade junta na homilia! Ao que ele me respondeu: "- Mas tu ouviste mesmo o que ele disse?" Aparentemente a ideia era não ter ouvido nada. 
Se gostei da música? 
Sim, claro. Principalmente do salmo.

Num Verão, o H. levou-me a Taizé uma semana. E raios, adorei aquilo. A experiência ecuménica, o ritmo dos dias marcado pelas orações, jovens como eu de toda a parte, muitos agnósticos que lá foram à procura de si mesmos, como todos nós. Foi daquelas poucas coisas que se faz na vida que me fez fazer as pazes com alguns dos meus fantasmas interiores. E muito brevemente temos de lá voltar, agora com as meninas, claro.

Muito antes disso, quando fiz 18 anos, fiz uma ruptura com a minha religião. Houve um momento que me marcou muito que foi um convite familiar muito bonito para ser testemunha de um sacramento e eu recusei. Foi fracturante, mas nada tinha a haver com a família, nem com a criança em si, tinha apenas a haver comigo. Não concebia ser testemunha do que na altura apenas associei à festa. Errei, mas família linda como somos nós Seixas, fui perdoada e o episódio passado para trás das costas.

Voltando ao assunto do baptismo das minhas filhas, sempre achei que esse sacramento devia ser muito mais do que apenas pela festa, as roupas e as lembranças para os convidados. E fui me convencendo que teria de ser uma opção individual de cada uma. Até que a ML fez cinco anos e começou a fazer perguntas sobre a igreja, os ritos e os sacramentos. E a ML não é muito perseverante, para nosso embaraço em certas ocasiões, mas as perguntas e os porquês sobre a religião tornaram-se cada vez mais constantes. No final do ano passado a miúda desarmou-me. As amigas da escola devem ter tido alguma festa da catequese e falaram-lhe do baptizado e do vestido bonito enquanto bebés e das fotografias e a criança ficou com o coração partido. Na altura pedi-lhe para parar com o drama, porque lá está, o problema não podia ser só a do vestido e das fotografias da festa; e ela respondeu-me que ela só queria saber mais sobre Deus, Jesus e a missa.

Este fim de semana foi a primeira sessão de catequese da ML. Nos tempos que correm, obviamente não é a única criança não baptizada do grupo. E ela diz que gostou muito. A ver se vai sair mais a mim ou ao pai nesta faceta.



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